terça-feira, 10 de abril de 2012

COMBATENDO A PICARETAGEM NA BRUXARIA TRADICIONAL


A vida é um grande teste para o discernimento daquele que procura viver em paz consigo e com os outros. Luz e sombra, verdade e mentira, joio e trigo se misturam a cada instante no agitado mundo humano. Em conseqüência, a confiança cega raramente é uma boa base para as relações humanas e sociais. A qualidade dos relacionamentos só tem a ganhar quando eles se guiam por princípios como a transparência, o controle democrático e o livre acesso à informação. A abertura ao diálogo e ao questionamento é um gesto preventivo que impede o surgimento da hipocrisia, das maldades açucaradas e das mentiras que parecem verdades.
Nenhum grupo ou instituição está livre de enfrentar o desafio da desonestidade. Nem sempre há um grau absoluto de sinceridade na relação de casal, entre amigos, irmãos ou colegas de trabalho. Em qualquer profissão, país ou religião, há gente honesta e boa, mas, ao mesmo tempo, há outras pessoas que se julgam muito espertas. A possibilidade de picaretagem está presente em todas as atividades humanas.

Há também, ilusões e falsidades que envolvem a busca de ideais, a prática espiritual e a vivência do sagrado. Elas afetam diretamente a relação da pessoa com sua alma imortal. Por isso, os líderes comunitários ou espirituais e todos os grupos voltados para o bem comum deveriam ser especialmente cuidadosos com questões como a capacidade de aprender com os próprios erros, a aceitação de opiniões divergentes, a liberdade de pensamento e a coerência entre discurso e prática.

Sempre que a ilusão envolve mais de uma pessoa, a velha lei da oferta e da demanda entra em vigor. Se alguém engana, é porque outra pessoa está aceitando ser enganada, ou, às vezes, até buscando isto inconscientemente. A pessoa que procura desesperadamente um alívio para os seus sofrimentos, mas prefere não assumir responsabilidade direta sobre sua vida acaba criando uma grande oportunidade para a picaretagem.

Uma tarefa dos líderes do século 21 é eliminar da cultura humana aquele messianismo pelo qual se cria a ilusão de que algum salvador providencial principalmente político, religioso, etc. Fará, sozinho, a tarefa que é de todos e de cada um. Não há muletas no processo da libertação, seja ela política, social ou espiritual. O salvador todo-poderoso e o picareta espertalhão são, quase sempre, as duas faces da mesma moeda falsa, aceitada por aquele que pretende alcançar a libertação sem esforço próprio.

A escritora Helena Blavatsky conta que há cerca de 2500 anos o grande rei Prasenajit, amigo e protetor de Gautama Buda, sugeriu ao mestre que ele fizesse milagres públicos. Assim, ele iria demonstrar a todos a força da sua sabedoria. Gautama respondeu: “Grande rei, eu não ensino a Lei aos meus discípulos dizendo-lhes que usem os seus poderes sobrenaturais para fazer, diante dos brâmanes e dos notáveis, os maiores milagres que o homem já viu. Eu lhes digo, quando ensino a Lei: ‘Vivam, ó santos, ocultando suas grandes obras e exibindo seus pecados’.” Este ensinamento não é exclusividade do budismo. No Novo Testamento, Jesus Cristo dá um exemplo de completa humildade pessoal e, em momentos decisivos do evangelho, recusa-se a fazer milagres ou demonstrar os seus poderes, mesmo sabendo que, por isso, será torturado até a morte. Francisco de Assis sempre falou de si como de um pecador: os outros é que o reconheciam como santo. A vida dos grandes místicos das várias religiões mostra atitude semelhante, e não por acaso.

A cura da alma humana é um processo natural: a boa cicatrização ocorre de dentro para fora e só é possível quando a ferida está em contato com o ar livre da verdade. O hipócrita pensa que é esperto e tapa suas feridas, mas isto o faz apodrecer por dentro. Os sentimentos negativos têm o mau costume de esconder sua face, mas quanto mais disfarçado estiver o egoísmo na alma do praticante religioso, maior é o perigo que o ameaça.

Ao abordar o tema da sinceridade em seu livro Meditação Taoísta, Thomas Cleary cita uma antiga escritura chinesa: “Não há nada no mundo que não tenha duas versões, a verdadeira e a falsa”.

A prática do Caminho na Bruxaria também pode ser verdadeira ou falsa, portanto, os estudantes devem primeiro, distinguir as diferenças. A verdadeira prática é a sinceridade total. Não é evitar o mundo ou recitar os versos medievais para abertura de portais. O falso é antagônico ao verdadeiro, assim, se não for eliminado, prejudicará o verdadeiro. Deve-se achar a maneira adequada de adentrar a peregrinação de forma consciente e realista. Se não achar esta maneira o falso não poderá ser eliminado e o verdadeiro certamente ficará prejudicado.

Para a BRUXARIA TRADICIONAL, o POSTULANTE A INICIAÇÃO deve se purificar por dentro antes de se purificar por fora. As religiões autênticas ensinam o desprezo pelas aparências. Partindo do bom senso, discernimento e resistência as fantasias.
O (a) estudante da Bruxaria Tradicional atento, (a) percebe que não existe uma linha divisória clara separando o mundo espiritual do mundo material. Fazer algo “em nome dos Deuses” não lhe dá garantia alguma de que sua ação seja boa ou correta: a história humana está cheia de comprovações deste fato. Também não basta crer em alguma coisa divina para que as causas da dor, dos anseios do ego desapareçam. É necessário que o (a) Iniciado (a) compreenda gradualmente o modo como funciona o egoísmo em sua vida cotidiana, para que possa eliminar aos poucos o egoísmo da sua prática religiosa, da sua militância social ou atividade espiritualista.

A purificação das motivações pessoais é um processo fascinante e sagrado. Tudo depende das intenções, porque elas é que definem o nosso rumo. Mas a mudança para melhor é gradual. Durante muito tempo uma forte devoção espiritual pode servir de fachada para propósitos inconscientemente egoístas. Há pessoas que adoram o objeto da sua devoção com o objetivo de obter algo em troca. Muitas vezes, depois de algum tempo se decepcionam e repetem a tentativa com outro objeto de devoção. Este tipo de praticante existe em todas as grandes religiões do mundo, também nos círculos esotéricos e espiritualistas.

Na Bruxaria Tradicional esse é um processo constante no caminho de alguns iniciados. Os ingênuos e os desinformados buscam estabelecer uma relação de troca comercial com as divindades, com os ancestrais e com os Deuses. Eles desejam um investimento seguro. Querem garantir vantagens materiais, ou lucros espirituais como êxtase, santidade e prestígio. Assim, abrem as portas para os picaretas tirarem proveito da sua ignorância.

Por isso nós Bruxas (o), desenvolvemos ao longo dos séculos a certeza consciente que é preciso eliminar o processo de auto-ilusão. Só a honestidade consigo mesmo dá a alguém o discernimento necessário para identificar corretamente a falsidade no mundo externo. Portanto, uma das principais tarefas do iniciado na BRUXARIA TRADICIONAL é destruir as sementes da ilusão e da hipocrisia dentro de si. É claro que ele só pode fazer isto observando serenamente os seus erros. Mas para manter a serenidade há uma condição prévia central. Todos os sábios tiveram que passar pelo desafio. Ele deve ser indiferente aos desejos do ego em ralação ao “poder da magia”.

A fuga automática e instintiva da própria realidade leva muitos a falsear a verdade, a aceitar a mentira e assim abrir espaço para diferentes formas de desonestidade, consciente e inconsciente. Por este motivo, os grandes sábios e filósofos de todos os tempos têm sido indiferentes as necessidades pessoais de poder induzidas pelo ego. Eles sabem que a graça divina surge de dentro para fora na alma que renuncia a manipular a vida. A bem-aventurança procura fielmente aquele que não foge da sua própria verdade.

Como Detectar a Picaretagem
Em qualquer movimento religioso ou espiritualista, e principalmente nos dias atuais em relação aos muitos "Sacerdotes" da Bruxaria, há de se observar que, quanto mais espírito crítico houver em relação aos processos de liderança, menor será o perigo da vaidade e do amor pelo poder. Os padrões de liderança corretos surgem junto com toda uma nova cultura da solidariedade. Não existe um método infalível para detectar picaretagens. No entanto, aqui estão alguns pontos básicos que permitem avaliar melhor um líder espiritual e aumentar a autenticidade de nossos movimentos e instituições. 

1)O uso da transparência.
O (a) verdadeiro Sacerdote (a) da BRUXARIA TRADICIONAL faz da sua vida um processo aberto e transforma os outros em fiscais do que faz. Ele (a) nunca considera como inimigo quem o (a) questiona de modo sério e leal. Ele (a) aprende, com as críticas a melhorar-se cada vez mais. O (a) picareta (a), por outro lado, é escravo da sua própria esperteza. Ele (a) abusa da astúcia, constrói uma imagem falsa de si e é um (a) manipulador (a) de aparências – até que o feitiço se volta contra ele (a).

2) Os mecanismos de poder.
Os mecanismos de tomada de decisão do grupo ou instituição que se quer avaliar são abertos, ou fechados?
A comunhão espiritual significa, entre outras coisas, confiança na assembléia, livre acesso à informação, avaliação crítica e autocrítica, escolha democrática dos rumos a seguir. O (a) Sacerdote (a) verdadeiro (a) saberá apontar o melhor caminho de modo que todos o reconheçam como legítimo. Já o (a) picareta fará segredo de muitas coisas, alegará que está em contato direto com alguma inteligência divina e inventará desculpas variadas para decidir tudo sozinho (a).

3) A administração do dinheiro.
Para manter a boa saúde ética e espiritual de um grupo humano as questões materiais e que envolvem dinheiro devem ser abertamente discutidas, anotadas e resolvidas com toda clareza. As eventuais doações contribuições à instituição ou ao grupo devem ser feitas de modo claro e impessoal. Mesmo quando há uma liderança fortemente estabelecida, deve haver transparência e controle democrático em relação a tudo o que envolve dinheiro e poder de decisão.

4) A relação entre palavra e ação.
Observe se o (a) Sacerdote (a) tenta honestamente vivenciar o ideal que ele (a) colocou diante de si. O (a) Sacerdote (a) maduro (a) luta consigo mesmo. Cai e levanta inúmeras vezes até unir sentimento, pensamento, ação e palavras com o fio sólido da coerência e da lealdade a si próprio. Como confia em si, não teme o aparecimento dos seus erros. O (a) picareta não acredita no seu próprio don e, por isso, procura viver das aparências. Em alguns casos diz uma coisa, pensa outra, deseja uma terceira coisa e faz algo que nada tem a ver com os itens anteriores. Ou então diz uma coisa para cada pessoa, tentando agradar a todos e causando, assim, grande confusão.

5) O método de tentativa e erro.
Se o (a) Sacerdote (a) se comportar como se fosse infalível ou superior aos demais, mau sinal. Caso coloque a Tradição que segue como única portadora da luz e da sabedoria, o caso é grave. O (a) Sacerdote (a) verdadeiro (a) se protege das suas próprias ilusões estimulando o espírito crítico nos demais. Assim testa os possíveis pontos fracos da sua estratégia.

6) A questão pedagógica.
Para os esquemas de picaretagem, é fundamental vender a ilusão de que alguns sabem e outros não sabem. Assim os (a) picaretas transformam os (a) postulantes a iniciação na BRUXARIA em meros consumidores e ouvintes. O fato é que ninguém sabe tanto que necessite falar o tempo todo, e ninguém sabe tão pouco que não tenha nada de importante a ensinar.
O (a) Sacerdote (a) é apenas um (a) auxiliar do processo autônomo de aprendizagem. Ele (a) se coloca a serviço do aprendiz. Não colocar o aprendiz a seu serviço.

7) Sacerdotisas e Sacerdotes na Bruxaria.
Para a Guiança Sacerdotal na Bruxaria Tradicional é necessário que as mesmas (o) deixem bem claro que são Missionárias (o), e como tais, não são gurus, nem lideres espirituais, são facilitadores dos caminhos, podendo com a prática da Guiança se tornarem bons mestres.



Que assim seja e assim se faça para o bem de todos!
Graça Azevedo / Senhora Telucama
Suma Sacerdotisa do Templo Casa Telucama
http://www.bruxariatradicional.com.br