segunda-feira, 4 de março de 2013

Minha Iniciação Bruxa na CLÁN.


Foram três meses em espera, mas os quais roda girou veloz. Tão acelerada que em meio aos afazeres rotineiros nem me dei conta que o tempo assim passava. Os primeiros preparativos para a nossa acolhedora sede se deram, tivemos de fazer água brotar da terra, de lugares que quanto mais profundos, mais límpidos. Passamos lá a nossa primeira noite, junto à floresta e em companhia de tantos seres que ali nos abençoavam, foi também tempo de colocar a semente na terra e pedir que os muros de proteção se ergam firmes através delas. Muitos sonhos, muitas coisas para realizar e o prazer de trabalhar em algo realmente gratificante. 

Em meio a todas estas coisas, a roda girou e quando me dei conta já era a semana de mais um festival, e para mim não seria somente mais um giro da roda este, mas uma comemoração especial, apesar da bruxaria ser o caminho de uma vida toda, era hora de festejar um marco, era mais um passo de uma longa estrada em busca de consciência, os meus três anos na casa que tantas boas coisas havia me dado, a começar pelo acolhimento, pela sensação de ser "mi hogar", pelo aprendizado, pela chance de conhecer realidades que não sabia existirem, enfim, meu sentimento era de grande alegria por todas as coisas então vivenciadas neste período, que cronologicamente é tão curto, na verdade, mas que em termos de experiências de vida foi tão intenso e gratificante.

E ao longo da semana que antecedia o ritual eram estes os pensamentos que povoavam minha cabeça, tantas lembranças das coisas vividas, dos momentos de aprendizado, da forma como a minha visão de mundo mudou, das batalhas interiores que eu travei comigo mesma e também das batalhas com o mundo, dos questionamentos sobre os meus reais valores, sobre o que de verdade é importante e sobre as coisas que por fim não fazem a menor diferença na jornada de ninguém, eram também as lembranças das vezes onde o ego tenta nos derrubar e grita alto conosco, das vezes onde a gente precisa se manter firme num propósito, entender os próprios defeitos, reconhecer seus potenciais, todas essas coisas parte de um processo de transformação interior tão profundo, que mudou meu coração, mas que se deu de uma forma tão suave, em meio a tantas realidades que me foram apresentadas, que só me dou conta de tudo isso, realmente quando paro para refletir porque houve tanta beleza e tanto conhecimento até aqui, que qualquer dificuldade acaba irrelevante diante disso. Resumiria tudo na primeira lição que tive da rainha, onde ela me dizia "mantenha seu coração puro". Nestes anos, o coração puro se tornou um coração forte.

E com força e fé, os preparativos na semana do festejo foram muitos. Era a mala para fazer, os objetos especiais para levar, a dificuldade em encontrar alguns itens, a ansiedade pela chegada e a desta vez, a preparação especial sem alimentação por três dias. Desafio especial ficar sem comida num festival onde os pratos típicos são o destaque. No segundo dia de dieta já me sentia completamente etérea e me resignei pensando em que se há quem consiga ficar sete dias sem alimento, não seria eu que iria ficar reclamando por ficar três. 

Chegada à sexta-feira, a vontade de estar com todos só fazia aumentar e as horas durante o trabalho demoraram a passar, quando enfim saímos na caída da noite, mal podia esperar para rever as pessoas e comemorar. Já no caminho encontramos com dois fraternos e que bom poder partilhar de suas companhias. Coração alegre, alma leve, a fome do corpo físico passou completamente porque a fome da alma estava sendo saciada. Demoramos a chegar, nos perdemos, contratempo com a chuva forte e com o escuro da noite, mas nada era capaz de nos fazer perder o bom humor.

Era tarde da noite quando finalmente chegamos ao sítio e sem mais demoras o vinho da alma nos foi servido, em medidas diferentes, cada uma na exatidão daquilo que cada um necessitava. Em cada taça, um pedido de ensinamento, a resposta para uma aflição, uma busca, um carinho... A generosidade da rainha tornava ainda mais sagrado aquele momento, onde o encontro com a própria essência é o mais especial dos presentes.

Aos poucos as pessoas se aquietavam, cada um a sua vez entrando num mundo distinto e maravilhoso, mas desta vez o meu trabalho não seria próximo a nenhum fraterno, seria inteiramente solitário, centrando a minha energia apenas em mim mesma e isto foi logo o que a rainha foi me dizendo assim que começamos a conversar. E me foi uma conversa tão saudosa, como reencontrar uma amiga velha e sábia.

Busquei um lugar na quietude da noite para ficar tranquila e encontrei no lago atrás da casa o lugar ideal para nossa conversa. Era lindo observar aquele lugar pelos olhos dela e em minha mente eu ouvia seus conselhos, tão longe deste mundo, absorta em outra realidade. 
O silêncio era absoluto e o escuro da noite me deixava segura e tranquila, estava completamente sozinha. Ou pensava que estava.
De repente, um pensamento me ocorreu e me virei para o lado, dei um pulo para trás, levantei as garras, dei um grunido. 
Lá estava, bem do meu lado, silencioso, um enorme gato preto de olhos amarelos, que me deu o maior susto. Quando o reconheci, imediatamente começamos a rir muito e a rainha ainda se divertia em minha mente com a peça que tinha me pregado e me dizia para não me distrair nem ser confiante demais.

O trabalho se intensificou e então fui ao quarto e me deitei, deixando meu corpo e mente por conta da conversa com a ayahuasca. Conversamos sobre muitos temas, sobre as coisas ainda por realizar, sobre as pessoas a quem dar atenção, os novos aprendizados que devem vir, sobre questões práticas como trabalho e família. Ela sempre sabia me perguntava sobre o que eu desejava conhecer agora e acabamos o trabalho com seus ensinos sobre alguns "golpes" de defesa no plano astral.

Abri meus olhos com ela me dizendo que era para ir ajudar na cozinha, que logo os demais peregrinos também voltariam e a sopa devia estar pronto. Ainda pensei que, estando sem comida, iria morrer de fome ao mexer com comida, mas para minha surpresa não foi isso que ocorreu. Enquanto mexia a sopa ainda ouvia os conselhos da rainha, mas não sentia o menor apetite. Aos poucos todos despertaram. Por aquela noite os trabalhos estavam concluídos.

A manhã seguinte começou agitada, com a ajuda dos fraternos, pouco a pouco os pratos típicos foram ficando prontos, um mais apetitoso que o outro, cada um nos fazendo lembrar que os ensinamentos mágicos que nos são passados tem uma origem e estão ali enraizados na cultura da mesma gente que inventou aqueles pratos, nos fazendo lembrar que bruxaria é para estar ali no dia a dia, em cada hábito, em cada atitude do dia a dia, inserida de forma muito natural na nossa vida, assim como estava também assim inserida na vida dos nossos ancestrais.

Ao cair da noite, foi a hora de dançar, com a proximidade dos animais de cada um, a casa estava cheia e a música era alegre, preenchia os corações com o ritmo da vida, era o momento de agradecer pela colheita farta, pelo conhecimento adquirido, pela oportunidade de se apartar deste mundo para conhecer muitos outros. 

Para mim, foi hora de agradecer aos deuses o meu tempo nesta casa, hora de me alegrar por cumprir mais uma roda e pedir, de coração aberto, que me sejam permitidas muitas outras mais. Bebi a poção feita para a ocasião e me recolhi, mas não sem antes me alegrar por ver o antigo cumprimento da casa ser renovado e feito novamente. Emocionante.

Já em outra realidade conversei com duas antigas conhecidas, uma séria e outra suave e uma terceira, que até então não conhecia. Foi uma experiência forte e as três me ofereceram possibilidades: eram portais que me mostravam e junto com cada um deles, dos muitos que vi, o ensinamento de se eu deveria entrar ou não nele, se o que tinha lá, de se era de um tipo que para entrar eu mesma teria de saber qual era a chave ou se era um lugar que eu deveria saber que existe, mas não ir. Em outros, me diziam que o que eu buscava estava ali, bastava atravessar. Paredes de energia apareciam ou se fechavam, conforme a conversa se seguia. Meu corpo energético tomou uma forma ovular totalmente nova para mim, mal sabia me conter nele e foi uma experiência de incrível beleza, daquelas que abrem muitas possibilidades.

Emocionada, fui puro instinto. E diante de tantos novos mundos, mal posso esperar por samhain e por tantas coisas ainda que tenho por aprender.

Abraços fraternos,
Danny





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