quarta-feira, 11 de maio de 2011

Os Sacerdotes Celtas pt.3: Magia e a religião

Que papel ocupava a magia neste sacerdócio? Sabemos que os Druidas dominavam a magia, os textos da mitologia nos falam em diversas ocasiões sobre suas incríveis demonstrações de poder. Le Roux e Guyonvarc’s falam com certa autoridade sobre as técnicas e rituais mágicos dos Druidas, como lhe davam, por exemplo, com os rituais funerários e algo que foi interpretado como uma espécie de batismo. Este último muito mais interessante do que parece ocorria muito tempo após o nascimento. Quando alguém nascia, recebia um nome provisório, até que fosse autor de uma façanha, que a partir de então lhe daria um nome que tivesse ligação com o feito. Sem dúvida, quase todos os guerreiros e alguns dos Druidas buscavam por grandes façanhas, já que o povo Celta considerava esta tradição como algo mágico, pois, assim como diz Powell [... Os celtas acreditavam em poderes mágicos que invadiam todos os aspectos de sua vida e seu ambiente. O que lhes interessava acima de tudo, portanto, era conjurar estes poderes mágicos para fins benéficos. Isto se conseguia por meio de rituais, sacrifícios e através da recitação de mitos: aquelas lendas sagradas que segundo acreditavam, traziam as divindades do passado e da memória a fim de satisfazer as necessidades dos mortais...].

Outro ardil dos Druidas era o fato de os celtas acreditarem que eles tinham poder sobre os elementos naturais. A crença nestes poderes se reflete nos textos irlandeses medievais principalmente. Do mesmo modo, o nevoeiro invocado pelos Druidas foi considerado um dos símbolos de seu poder. Considerado como um estado intermediário entre o ar e a água e se empregava comumente segundo as tradições, tanto por seres do Outro Mundo como pelos próprios Druidas para paralisar e impedir os movimentos dos homens. El feth fiada, ou o dom divino da invisibilidade somente era permitido aos seres do Outro Mundo, aos Druidas e a algum outro ser privilegiado. Detinham o saber ainda sobre toda a magia que habitava na própria natureza, fazendo o uso de diversas seivas, ervas e seus extratos em rituais mágicos, conforme expôs Plínio [... a magia vegetal foi evidentemente, muito importante para os celtas...]. Os textos irlandeses e seus mitos nos contam ampla e repetidamente sobre estes poderes que se obteriam através de poções, bebidas, misturas vegetais e através da própria natureza.

Os Druidas sabiam como pedir ajuda aos deuses, como invocá-los e de como usar a magia que os rodeava, igualmente conheciam o mistério da natureza cíclica de todos os seres e coisas do mundo. Isto os fazia respeitados por seus concidadãos. Um exemplo do crédito que possuíam era o fato deles não terem obrigação de pagar qualquer imposto ou prestar serviços militares, benefício que se entendia inclusive aos seus pupilos. Era uma espécie de influência e sabiam como tirar proveito disso tudo como sempre fizeram os sacerdotes da maior parte das religiões do mundo.

E o que seria esta tal ciclicidade de tudo que existe? Trata-se de uma regra básica que realmente regeu toda a cosmo visão Celta. Um conceito religioso-espiritual, um exemplo deste conceito nos foi mostrado mais uma vez por César, que nos disse que [... os Druidas esmeram-se em persuadir a imortalidade das almas e sua transmigração de um corpo ao outro, cuja crença pode ser considerada como um grande incentivo, dando valor aos sacrifícios e colocando de lado o medo e a morte...]. Esta noção da imortalidade da alma ou metempsicosis, ao contrário do que acreditavam certos autores clássicos ao dizer que sua origem estava entre os padres da filosofia grega, é certo que se levantou como uma crença puramente Celta. Possuíam uma doutrina completa sobre imortalidade, com moral, visão geral do mundo, mitologia, ritual e ritos funerários apropriados. Ensinavam que a morte nada mais era do que uma mudança para o Outro Mundo, onde a alma residiria em reserva para quando este mundo necessitasse de uma nova alma para uma nova vida. [... mas por outro lado, parece que a capital das almas não se limita aos seres humanos, e a transmigração das almas pode se dar de uma espécie para a outra...]. Agora, não devemos confundir a metempsicosis com a reencarnação na cosmo visão Celta. Seu conceito era algo mais parecido com a imortalidade da alma, mas externo à pessoa: a alma é o que é, não estando no corpo de determinada pessoa, mas sim pela sua essência. Esta crença permitia ao povo Celta, como diz Estrabão, ser aguerrido à loucura da batalha.

Seleção de artefatos escavados
(Castro de Santa Tegra - Oppida region.)
No campo das artes, este conceito religioso pode ser visto na sua representação mais interessante chamada de triskele, triskelo, triskle ou triquetra... Que tem a forma genérica de uma espécie de hélice arqueada de três braços. Alguns autores associam esta figura ornamental, que era um símbolo druidico por excelência, com a triplicidade de algumas divindades celtas, enquanto outros não se atrevem a opinar e o deixam como um simples motivo decorativo céltico, de curvas e contracurvas. Sabemos que os Druidas eram considerados como seres de uma plataforma intermediária entre os homens e os seres do Outro Mundo. Possivelmente o triskele represente estes três mundos: Os Homens, Os Druidas e os Deuses do outro mundo. Embora seja possível que de outra forma represente os homens, a terra e o Outro Mundo, considerando sua estrutura de cosmo visão. Talvez nunca cheguemos a uma definição exata.

O último aspecto que abordaremos seria sobre as escrituras. Os celtas não escreviam nada, somente no período medieval se atreveram a registrar seus mitos e lendas. É certo que os Druidas não queriam vulgarizar ou distorcer seus conhecimentos e também que estrangeiros e inimigos não tomassem conhecimento. Mas o mais certo é que queriam preservar aquilo que os converteu numa classe privilegiada para o povo Celta: seus vastos conhecimentos, sua magia, os cânticos das façanhas de seus heróis e Deuses, o conhecimento de como tirar proveito do poder divinho e do poder da natureza. Não queriam que pessoas comuns e muito menos a nobreza guerreira, conhecessem seus segredos, pois com isso perderiam o misticismo e o crédito. Sem tudo isso, os Druidas não teriam conseguido preservar seu poder por tanto tempo. O conhecimento da escrita era uma forma autêntica de poder e os Druidas sabiam disso, pois, eram eles quem realizava as transações comerciais de seu povo, conheciam perfeitamente os caracteres gregos e até latinos. Toda sua magia teria explicações naturais, e eles sabiam disso.

No entanto, não há como subestimar o trabalho que os Druidas desempenharam em benefício de seu povo: ensinaram-lhes, ergueram uma civilização fazendo-os um povo coerente e grande, mantiveram uma cosmo visão perfeitamente interligada com seus ritos e crenças, mantiveram o culto a Deuses que se estendiam à totalidade do mundo que os rodeava, e se empenharam quase cegamente em manter os costumes, a história, as lendas e conhecimentos que durante séculos e séculos foi construída por seu povo. Continua [...]

Índice dos artigos:


Fontes e Bibliografia:
Funcación Icaros: http://www.fundacion-icaros.org/;
The Druid Network: http://druidnetwork.org/;
Templo de Avalon: http://www.templodeavalon.com/modules/articles/article.php?id=85;
Os Druidas, Prof. Dr. João Lupi. Departamento de Filosofia/ UFSC, Brathair 4 (1), 2004: 70-79, ISSN 1519-9053;
Os Druidas: Os deuses celtas com forma de animais, H. D'arbois de Jubainville, 1ª ed. Madras Editora Ltda, 2003. ISBN 85-7374-674-2;

Cordialmente
Conselho de Bruxaria Tradicional
http://www.bruxariatradicional.com.br/

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